sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

História do Dodge 1800 / Polara no Brasil

História do Dodge 1800 / Polara no Brasil:

A Chrysler iniciou suas atividades no Brasil em 1967 quando adquiriu a maioria das ações da Simca. Começou fazendo profundas modificações na linha Simca, criando em 1967 a linha Regente e Esplanada que traziam muitas diferenças em relação aos antigos Simcas, melhorando bastante a qualidade e durabilidade desses veículos. Essa linha ficou em produção de 1967 até 1969, enquanto a nova fábrica da Chrysler ficava pronta para a produção de seu 1º carro no Brasil: O Dodge Dart. O Dart foi lançado no final de 1969 (já como modelo 70) na versão sedan com o excelente motor 318 V8 de 198 CV SAE e câmbio mecânico de 3 marchas na coluna. Foi considerado um veículo moderno para os padrões brasileiros na época, pois utilizava a mesma carroceria produzida nos Estados Unidos com um excelente padrão de acabamento e ótimo desempenho. Nesta mesma época foi lançada a linha de veículos utilitários, composta pelos modelos D-100, D-400, D-700 e D-900.
Porém os planos da Chrysler brasileira não terminavam aí, pois estava em pauta um plano mais audacioso. Esse plano seria o lançamento de um carro pequeno-médio que pudesse disputar uma parcela mais representativa do mercado. Todas as outras montadoras já pensavam em lançar veículos desse porte também para disputar mercado com o Ford Corcel que “reinava” praticamente sozinho neste segmento.
Em meados de 1970 a matriz americana aprovou uma enorme verba para a execução doprojeto do carro menor. Então a Chrysler brasileira começou a escolha do veículo que seria fabricado aqui, pois um novo projeto exclusivamente brasileiro seria inviável financeiramente e levaria muito mais tempo no seu desenvolvimento. Depois de algum tempo foi escolhido o Hillman Avenger, que era um lançamento recente do grupo Rootes na Inglaterra, era bastante atual, seu tamanho era favorável (pouco maior que o Corcel e menor que um Opala) e ainda trazia a mecânica que apresentava o estilo clássico com motor dianteiro e tração traseira e por isso tudo não implicava em grandes investimentos para ser fabricado aqui.
Este modelo já tinha sido lançado na Argentina em 1971 com a denominação de Dodge 1500 somente na versão 4 portas. O modelo Argentino praticamente não possuía nenhuma diferença em relação ao modelo Inglês, ficando as únicas diferenças por conta dos pára-choques e lanternas traseiras somente. A Chrysler brasileira trouxe alguns exemplares argentinos no qual executou diversos testes de consumo, desempenho e durabilidade, visando adaptar o modelo as condições brasileiras.
Depois de todos os testes o Dodge 1800 foi apresentado ao público no salão de 1972 nas versões “L” e “GL” com carroceria de 2 portas e motor 1.8. Seu lançamento oficial no mercado foi no dia 2 de Abril de 1973.
Vamos descrever agora tudo o que aconteceu na história do nosso querido “Dodginho” de 1973 até 1981:

1973:
- O Dodge 1800 foi lançado nas versões “L” e “GL”. Utilizava carburador Solex de corpo simples gerando 78 cv, o que era pouco para um motor 1800. O único opcional da versão “GL” era o teto de vinil, indicado na plaqueta pela letra “V”. Esta versão possuía um bom acabamento interno com bancos em Jérsey, bolsa nas portas (iguais aos do Hillman) e porta-luvas embutido. Grande parte das peças de lataria ainda eram iguais aos do Hillman, sendo que somente no ano de 73 as caixas de roda frontais eram inglesas (lisas e sem reforços). Na versão GL as rodas eram pretas trazendo sobrearo cromado, uma pequena calota de acrílico no centro e porcas cromadas.

1974
- Os modelos para 74 eram idênticos aos 73, ficando as diferenças por conta das caixas de rodas frontais com reforços (vincos) que só foram feitas na versão brasileira e a mudança na carburação de solex simples para Carburador “SU” ou Stromberg (no início de 74 saía com “SU” de 36mm e em meados de 74 com Stromberg também de dimensões pequenas). Essa mudança gerou um pequeno aumento na potência de 78 para 82 cv, o que ainda era muito fraco para o Dodginho. Foi lançada a versão “1800 SE” com acabamento mais simples e sem frisos cromados. A cor do interior e das rodas combinavam com a cor externa e o mesmo era disponívem em 4 cores: Amarelo, Branco, Vermelho e Verde. O “SE” não possuía pára-sol para o carona e não tinha isqueiro no painel, mas trazia um volante exclusivo plano de 3 raios com um design bonito

1975
- Em 75 foi criada a versão STD básica para o 1800, sendo que este não possuía nenhum friso (somente em volta dos faróis e grade), trazia um pequeno emblema retangular escrito “1800” nos paralamas dianteiros e era bem ao estilo “pé-de-boi”. A versão “L” passou a ter um emblema “De Luxo” nos paralamas dianteiros e a “GL” a ter o emblema com a assinatura “Gran Luxo” também nos paralamas. A versão “1800 SE” continuava em produção, mas acabou vendendo pouquíssimas unidades ofuscada pela nova versão STD de entrada. Nas versões “L” e “GL” o interior permanecia idêntico ao de 73 sem nenhuma modificação. Externamente mudou o friso da caixa de ar (iguais de 75 a 79), o emblema “Dodge” do capô passou a ser quadrado (antes era assinado) e a grade da versão “L” passou a ser toda na cor prata. Modificações também nas “roscas” e “estojos” de fixação da suspensão e barra estabilizadora dianteira, passando ater parafusos muito mais robustos.
E mais uma vez a Chrysler trocou carburação, só que por um motivo um pouco estranho: em 74 os funcionários da fábrica Inglesa de carburadores “SU” entraram numa longa greve e começou a faltar carburadores para montar os carros novos. Esse foi o motivo da utilização do carburador Stromberg ao invés do “SU” nos carros fabricados mais para o fim de 74. A saída foi colocar o carburador “Hitachi” japonês com 36mm também que era uma cópia fiel aos modelos ingleses de venturi variável e tinha até o mesmo encaixe no coletor do 1800 (até o cabo do acelerador é igual). Por este motivo todos os Dodginhos em 75 saíram com carburador “Hitachi” mantendo os mesmos 82 cv.
Em 75 também foi adotada a GARANTIA TOTAL, mas o desempenho continuava muito fraco para o Dodginho. Rolavam boatos na fábrica de que os engenheiros que projetaram o motor 1800 no Brasil erraram muito, pois aumentaram a cilindrada e deixaram o cabeçote, válvulas e comando sem nenhuma modificação, além da baixa taxa de compressão. Nessa época já estava acontecendo uma grande pesquisa de mercado com os consumidores que possuíam o Dodge 1800 para que os mesmos opinassem sobre os defeitos do carro e o que poderia ser melhorado.

1976
- Depois de uma longa pesquisa de opinião junto aos consumidores, a Chrysler realizou diversas modificações mecânicas no Dodge 1800, rebatizando o carro com o nome de Dodge Polara. Pequeno aumento da taxa de compressão, cabeçote redesenhado com dutos maiores, válvulas de escape e admissão maiores, Coletores de admissão e escape com dutos maiores, comando de válvulas mais “forte” e adoção do carburador “SU” HS4 de 40mm. Passou a ter 92cv e isso trouxe um desempenho bem superior, fazendo com que o consumo também ficasse menor. As suspensões foram recalibradas com a troca das molas traseiras por outras mais baixas e das dianteiras por outras mais altas, nova geometria e amortecedores dianteiros “imersos” no óleo para dissipação do calor em condições severas. Passou a ter também a opção de pneus radiais e servo-freio.
No interior tivemos a modificação na padronagem do tabelier do painel (passou a ter ranhuras grossas, pois de 73 a 75 eram lisos), introdução de novo volante (igual ao da linha Dart/Charger 76) e opção de interior caramelo ou preto, utilizando a mesma padronagem dos Dart de luxo. A opção de rádio continuava a ser somente AM, mas com um novo modelo. Foram extintas as versões “De Luxo” e “SE”, restando somente as versões “STD básica” e “Gran Luxo”. As principais modificações externas foram a grade, aro dos faróis, lanternas traseiras e pintura das rodas (a versão “GL” perdeu o sobrearo e passou a ter as rodas pintadas em Cinza e preto com a pequena calotinha central em alumínio).

1977
- Para 77 externamente nada mudou, trazendo somente novas cores. Em meados de 77 foi introduzido um novo quadro de instrumentos redesenhado com novo grafismo, novos botões de comando, iluminação acima de todos os botões e botão do sistema de ventilação diferente. Por isso em 77 os Dodginhos saíram com dois painéis diferentes, no ínicio iguais aos do modelo 76 e no final iguais aos do modelo 78... Fora o painel, os bancos e forrações continuavam idênticos aos de 76, somente surgindo a opção de interior na cor vinho. Na mecânica não houve modificações, apenas o servo-freio com circuito duplo passou a ser item de série.

1978
- Em 78 foram realizadas as modificações mais profundas de estilo, com a introdução de faróis retangulares com o pisca incorporado (essa frente foi lançada na Inglaterra em 76 e somente o párachoque nacional era diferente). Na traseira novos frisos e novas lanternas maiores (usadas de 78 à 81) e no restante da carroceria foi mantido todo o acabamento dos modelos 76 e 77, ficando a única diferença por conta do filete lateral exclusivo do modelo 78.
Na mecânica somente a agulha do carburador SU foi recalibrada na tentativa de tornar o Polara mais econômico.

1979
- Em 79 o interior foi totalmente remodelado, passando a utilizar toda a padronagem da linha Magnum/Charger 79, tornando-se bem luxuoso e com um excelente acabamento. Seguindo o padrão da linha Magnum/Charger, tinha a opção de interior preto, caramelo ou azul. A padronagem do tabelier do painel mudou e as manivelas do vidro passaram a ser cromadas (ficaram também iguais as do Magnum). Passou também a ter a opção de vir com rádio AM/FM stéreo ou toca fitas conjugado com antena elétrica. Externamente poucas mudanças: Continuavam as versões “STD” e “Gran Luxo”, sendo que a última “perdeu” os frisos nas abas dos páralamas e os frisos das molduras das janelas laterais e portas (foi o único ano em que as molduras eram pintadas em preto). No lugar do filete lateral foi colocado o famoso “friso Silvatrim”, que combinava com a cor do interior escolhido.
Na mecânica tudo permanecia igual. Em Setembro de 79 foi apresentao o Polara automático, feito inédito entre os automóveis médios nacionais, trazendo uma caixa importada Borg Warner modelo 45 (utilizada em alguns modelos BMW) possuindo 4 velocidades.

1980
- Em 80 surgem novos párachoques quadrados com polaina plástica, placa traseira passa a ser entre as lanternas, foi colocada uma pequena “aba” entre o párachoque e o painel traseiro, para “dar acabamento” (pois os párachoques não combinavam com a carroceria), o “friso Silvatrim” passou a contornar a traseira do veículo (exclusivo do “GL”), a friso da caixa de ar passou a ser reto na sua parte final, as molduras dos vidros laterais e portas passaram a ser pintadas na cor do veículo e o retrovisor externo passou a ser de plástico, continuando somente para o motorista. A versão “STD” foi extinta de vez, voltando a aparecer a versão “L” que não existia desde 75. As duas versões eram identificadas pelos emblemas de plástico “POLARA L” e “POLARA GL” colados nos páralamas dianteiros. O “GL” ainda trazia as bonitas calotas de aço inox, opção de vidros verdes e/ou degradée laminado não esquecendo do câmbio automático.
O interior mudou um pouco, ganhando novos bancos dianteiros de encosto alto, mas perdendo toda a bonita padronagem da linha Magnum/Charger (todo o material utilizado era igual ao do Dart de luxo), mantendo a opção de interior preto, caramelo ou azul. Outro item importante foi a adoção do conjunto lavador elétrico c/ temporizador de série em todos os modelos.
Em meados de 1980 foi lançada a versão “GLS” que trazia luxo e esportividade juntos, com as seguintes modificações: Taxa de compressão mais alta (8,0:1), carburador Wercabrás de corpo duplo c/ 2º estágio de acionamento mecânico, novo coletor de admissão, motor pintado na cor dourada e filtro de ar exposto. No interior trazia o mesmo banco do modelo “GL”, mas com o tecido exclusivo e uma bolsa na parte traseira dos bancos, painel Veglia importado com seis mostradores e ar quente de série. Os únicos opcionais eram o rádio toca-fitas c/ antena elétrica e vidros verdes/degradée c/ ou sem desembaçador térmico traseiro (opcional muito raro). O porta malas vinha totalmente revestido em carpete preto com um ótimo acabamento. Externamente trazia a inscrição “POLARA GLS” nas laterais traseiras após as portas e acima das caixas de ar, “GLS” no capô e tampa de malas, frisos dianteiros e traseiros (iguais aos do “GL” 78/79) pintados de preto, faixas pretas e borrachões nas laterais, borrachões nos párachoques e moldura preta nas portas c/ friso exclusivo. Não podemos esquecer também das calotas plásticas exclusivas que até possuíam uma pequena ferramenta “especial” para retirá-las.
Também em meados de 1980 todos os “POLARA GL Automáticos” passaram a ser equipados com o painel Veglia, só que com a instrumentação bem mais simples, podendo vir ou não com ar quente (de série no GLS) e opção também dos vidros verdes/degradée c/ ou sem desembaçador térmico traseiro. Os demais Polaras ( “L” e “GL”) com câmbio mecânico continuavam a utilizar o painel igual ao dos modelos 79 (Horasa).

1981
- Para 1981 o modelo “L” foi extinto e o “POLARA GL” c/ câmbio mecânico continuava a utilizar o painel antigo Horasa dos modelos 79. “POLARA GL” com câmbio mecânico e painel Veglia somente saiu com plaqueta VW nas últimas unidades. Todas as cores eram do catálogo VW e assim como a linha Dart as últimas unidades saíram de fábrica com a plaqueta de identificação da VW caminhões S.A. (por volta do nº de chassis 94.000 até o nº 94.231).

Assim foi a história do Dodge 1800 / Polara no Brasil.

Ficamos agora com algumas curiosidades:

- É muito difícil de se encontrar um “Polara GL” 80 original (de plaqueta) com câmbio mecânico. Acredito que mais de 70% saiu equipado com transmissão automática;

- “Polara GL” 81 mecânico original de plaqueta nem se fala, é muito raro..... Se for de painel Veglia e plaqueta VW pior ainda!!!!!!!

- Poucos sabem, mas o “Polara automático” mais raro que existe é o 79, pois começou a fabricar em Setembro e não durou nem dois meses;

- O Dodginho foi o 1º carro a rodar com álcool e um dos protótipos encontra-se até hoje no centro de pesquisas em São Bernardo do Campo. Foi o carro do mundo a rodar com álcool, porém o título de primeiro carro de linha a ser movido a álcool ficou com pioneirismo da Fiat com o lançamento 147. Dodge Polara / 1800 de fábrica a álcool não existiu;

- Os Dodginhos que existem em maior número são os 80 e 81, pois quem comprou sabia que estava prestes a sair de linha e acabou ficando com o carro durante anos e anos;

- As lanternas de iluminação de placa dos Polaras 80 e 81 são as mesmas do Karmann Guia TC. Devem ter sobrado aos montes na VW e para não jogarem fora acabaram “enfiando” no Dodginho todo o estoque que sobrou;

- Em 1980 a versão com interior azul não existiu com o painel Veglia importado, somente existiu com o painel antigo Horasa igual ao dos modelos 79. Painel Veglia somente preto ou caramelo;

- Apesar de mais caro, a maioria dos “Polara GLS” 80 e 81 não possuíam vidros verdes e/ou dégradé. Esses vidros saíram em maior número nos “Polara GL” automáticos;

- Em 1976 o Dodge Polara foi campeão de vários torneios importantes no automobilismo nacional, inclusive na Divisão 1 Classe “A” com o Piloto Fábio Sotto Mayor. Por causa dessa façanha, a os motores foram limitados no ano seguinte para até 1600...

- Alguns “Polara GLS” que ficaram encalhados aqui em 81 foram exportados para a Bolívia e lá se acabaram... Outros foram vendidos a “preço de banana” e para pagar a perder de vista por aqui mesmo;

- Outros Dodginhos 1981 foram entregues como brindes à grandes clientes da Volkswagen Caminhões.


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Fica aqui o meu agradecimento ao grande amigo Rodrigo Copelo pelo texto, apaixonado e conhecedor dos Dodginhos. Rodrigo junto ao seu primo, Lico da Justa, possuem somados quase 20 Dodginhos.

Eu mesmo contribui aqui com apenas uns 2%, ous outros 98% são méritos dele.

[]s
Polycarpo